segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Que vergonha, Coronéis presos na Operação Torrentes estão na Academia Militar de Paudalho-PE

Foto: Reprodução
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Um fato têm causado surpresa entre policiais militares um dia depois de três coronéis terem a prisão temporária decretada pela Operação Torrentes, da Polícia Federal, que investiga desvios de verbas para as enchentes que destruíram a Mata Sul nos anos de 2010 e 2017. Eles estão na Academia Militar de Paudalho – um centro de referência para formação de novos policiais de Pernambuco. Segundo o deputado estadual Joel da Harpa (Podemos), os três estão no mesmo alojamento, com todo conforto, enquanto qualquer praça que comete um erro, como dormir no serviço, é levado para o Centro de Reeducação da Polícia Militar (Creed), localizado em Abreu e Lima. Para lá, são transferidos os PMs
acusados ou condenados por algum tipo de crime, desde homicídio a crimes contra a administração pública, roubo e furto. Quando um PM fere o Código Militar ou comete infrações administrativas também deslocado para o Creed.
Na operação Torrentes, sete PMs foram levados à sede da Polícia Federal de forma coercitiva – sendo liberados em seguida, enquanto três deles, os coronéis Fábio Alcântara Rosendo, Waldemir José Vasconcelos de Araújo e Roberto Gomes de Melo Filho foram deslocados para a Academia Militar de Paudalho. O tenente-coronel Laurinaldo Félix do Nascimento teria o mesmo destino, porém ficou em prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica, porque passa por tratamento médico.
Fábio de Alcântara é secretário-executivo de Defesa Civil do governo do estado e Laurindo Félix é coordenador administrativo da Casa Militar, órgão ligado diretamente ao gabinete do governador Paulo Câmara (PSB). Já Roberto Gomes é gerente-geral de esportes e Lazer da Secretaria de Turismo. Nenhum deles foi afastado do cargo e têm direito à defesa. Waldemir é coronel aposentado.
O coronel Roberto Gomes foi preso temporariamente por conta de escutas telefônicas investigadas pela Polícia Federal. Segundo a apuração, dois dias antes das eleições de 2014, uma pessoa identificada como Heverton Soares da Silva (também presa) fez um saque de R$ 2 milhões da empresa JFW, investigada na Operação Torrentes, sendo rastreado a 200 metros da residência do coronel Roberto. Logo depois, esse mesmo coronel se deslocou para a sede do PSB, onde, supostamente, teria se encontrado com o coronel Mário Cavalcanti, ex-interventor de Gravatá e ex-chefe da Casa Militar. O coronel Mário foi convocado a prestar depoimento por conta desse saque feito por Heverton, uma vez ele atuou no comitê financeiro do PSB naquele ano.  
Já o coronel Carlos Alberto de Albuquerque Maranhão Filho, que também foi citado na operação, mas foi liberado, chegou a ser nomeado comandante da Polícia Militar de Pernambuco em 2015. Ele foi premiado com o Grau de Comendador da Medalha da Defesa Civil pelos serviços prestados à população na época das enchentes que devastaram cidades da Mata Sul. 
Segundo Joel da Harpa, que liderou a greve da PM em 2014 e foi excluído dos quadros da polícia em agosto passado, a Corregedoria da Secretaria de Defensa Social sequer se manifestou sobre abertura de processo contra esses PMs. Indagado se não era cedo para tal medida, uma vez que eles ainda não foram condenados, Joel respondeu que o Código Militar é diferente. “Por razões políticas, eles pediram minha exclusão com muita brevidade, me acusaram de ferir o decoro da classe, de macular a imagem da corporação. Agora eu pergunto: os presos nesta operação deveriam estar na Academia Militar, onde está inclusive acontecendo cursos? Se um praça dorme no serviço ele vai para o Creed. Os militares citados tiveram até mandado de prisão decretado, coisa que eu não tive, e estão sendo privilegiados, ficando na Academia, que é um local de formação! Veja que exemplo”, declarou Joel. “O governo tem que mostrar para a categoria que vai agir de acordo com o que é tão defendido pelos oficiais e coronéis da PM”, acrescentou.
A Polícia Militar informou que a determinação do local para onde foram levados os policiais militares foi uma decisão do Judiciário, com base no que prevê o Código de Processo Penal em relação à prisão especial em seu artigo 295, inciso V. O texto diz que “serão recolhidos a quartéis ou prisão especial, à disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva os oficiais das Forças Armadas e os militares dos estados”. A corregedoria não enviou resposta. Na prática, segundo Joel de Holanda, a autoridade competente decidiu encaminhar os suspeitos para a Academia Militar e não para o Creed e não anunciou abertura de procedimento disciplinar.
 


Fonte: Diario de Pernambuco

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