segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Em Pernambuco Recifenses trocam praia por quintal na hora de bronzear e usam fita adesiva como biquíni.

Sol  de verão a pino. O relógio marca 10h no bairro de Ouro Preto, Olinda. É hora de “virar” as meninas que estão se bronzeando na área do jardim de uma das casas da Cohab. Enfileiradas em macas brancas acolchoadas, elas buscam o bronze perfeito para o carnaval. O tempo de exposição ao sol é cronometrado. Meia hora de frente. Meia hora de costas. Quem está na segunda ou terceira sessão tem direito a ficar de lado também. A marca desejada, retinha e sem falhas, é moldada usando fita isolante colorida e esparadrapo.

A 20 km dali, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, a movimentação é parecida. Em uma casa de muro alto e sem identificação na área externa, mulheres viram de um lado para o outro com biquínis feitos artesanalmente com fita adesiva. De 10 em 10 minutos, recebem um jato de água sobre o corpo para não desidratar. Suco natural, picolé de frutas e água são cortesias da casa. Antes de serem expostas ao sol, as clientes são orientadas a tomar um café da manhã reforçado.

O procedimento só é realizado em horários em que a luz solar não agride tanto, por isso, só acontece pela manhã. Por lá, circulam empresárias, juízas, desembargadoras e modelos. “Recebemos mulheres com perfis variados, de jovens a idosas, mas todas com o mesmo objetivo: conquistar o bronze perfeito. Elas saem daqui renovadas, sensuais e com a autoestima elevada”, afirma a proprietária da Bronzeado Natural, a empresária Jarline Cabral.  

A moda do bronzeamento com fita adesiva surgiu em Goiás, há mais de 20 anos. Depois de se popularizar no Centro Oeste, foi copiada no Rio de Janeiro, onde o “bronzeamento na laje” ficou famoso. Em Pernambuco, a tendência chegou há pouco mais de um ano e rapidamente conquistou adeptas de todas as classes sociais. “O tecido (do biquíni comum) muda muito de lugar e deixa o bronze com falhas. Com a fita adesiva, a marca fica top, perfeita”, defende a dona do espaço em Olinda, a esteticista e empresária Eliza Cristina, a Eliza Bronze. “Muitas mulheres têm vergonha de ficar bronzeando na praia ou em piscinas, sendo observadas. Aqui, garantimos privacidade, conforto e segurança”, destaca Jarline.

O expediente no quintal de Ouro Preto começa cedo. Por volta das 7h, as primeiras clientes começam a chegar. As mais brancas têm preferência no início da agenda. Às 10h, a casa já está “bombando”, segundo a proprietária, a esteticista Eliza Cristina. A clientela vem de todas as partes do estado. “Recebo muita gente de Olinda, mas também tem do Recife, Caruaru e até de Garanhuns”, conta Eliza. A estudante Cynthya Cybelle, 21, é uma das clientes fiéis do espaço. Sai da Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife, para pegar sol em Ouro Preto. “Me sinto maravilhosa com esse bronze. Sempre tentei na praia, mas não conseguia esse resultado”, diz.

O valor promocional de verão da sessão de bronzeamento é R$ 60. Se a cliente levar uma amiga, o preço cai para R$ 55. O pagamento da taxa inclui massagem com esfoliantes, supervisão na exposição ao Sol e banho de Lua (clareamento dos pelos). “Tomamos cuidados e orientamos a cliente a continuar se hidratando após a sessão. Também só usamos produtos (de ativação de melanina) aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)”, afirma Eliza Bronze. 

Apesar das medidas, o espaço ainda não tem alvará de funcionamento emitido pela Prefeitura de Olinda. “Já fui lá algumas vezes, mas me pediram para voltar depois do carnaval porque estão muito ocupados”, explica. A Prefeitura de Olinda, por outro lado, informou que os alvarás estão sendo emitidos normalmente. “Não existe na administração pública a orientação para que as pessoas retornem após o carnaval. Inclusive, só em janeiro deste ano, a Secretaria de Meio Ambiente Urbano e Natural já expediu 145 alvarás de funcionamento. As solicitações podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 13h30”, respondeu a gestão municipal, por nota. 

No bairro de Boa Viagem, a Bronzeado Natural oferece serviços semelhantes em sessões que custam a partir de R$ 150. A casa tem alvará de funcionamento. Quando agendam um horário (sempre pela manhã), as clientes são orientadas a levar toalha de banho, duas toalhas de rosto, protetor solar facial e corporal, canga, biquíni e chinelo.

O primeiro passo é preencher uma ficha com orientações gerais. No papel, quem vai passar pelo bronzeamento precisa informar se está alimentada e hidratada, um contato para casos de emergência e afirmar estar ciente de que é preciso seguir à risca as orientações das profissionais. “Toda a nossa equipe trabalha com roupas com proteção UV e oferece todos os cuidados para que o procedimento aconteça com segurança. Nunca tivemos problemas”, afirma a proprietária do estabelecimento, que tem um ano e dois meses de funcionamento, Jarline Cabral.

No Recife, o funcionamento de clínicas que oferecem serviços estéticos como bronzeamento é regulamentado pela Vigilância Sanitária. Segundo a gerente do setor de Serviços de Saúde e Medicamentos da Secretaria de Saúde do Recife, Rosemare Sales, a prefeitura desconhece espaços que usam fitas isolantes para bronzear. “As fitas adesivas são feitas para outros fins, como para serem usadas em obras. Se elas têm cor, pior ainda, pois contêm chumbo e outros elementos nocivos à pele. Como não foram fabricadas para serem usadas no corpo, não são reconhecidas pela Anvisa”, alerta.  
Fonte:DP.

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