segunda-feira, 7 de março de 2016

Parabens Mulheres Maravilha pelo seu dia ,Não importa a profissão, a idade, a cor ou a condição social. Todas enfrentam o mesmo desafio: pertencer ao gênero feminino.

Acredite se quiser, Epifânia Maria de Jesus Mendes, a dona Pifa, está a menos de um mês de completar 99 anos "bem vividos e bem aproveitados." São 18 filhos, muitos netos, três tataranetos. Quase 100 pessoas descendem da pequena e animada senhora com tanta história para contar. Casou-se aos 17 anos com um homem escolhido pelo pai e, com os anos, aprendeu a amá-lo. Com três filhos e um jegue, a família veio caminhando de Correntina, na Bahia, até Formosa. Uma viagem de 400 quilômetros feita a pé, durante um mês. Chegou aqui em 1958 para ajudar a construir a capital federal.


Dona Pifa se lembra com carinho dos candangos. Cozinhava para eles, lavava roupa de muitos, além de cuidar dos seus 18 filhos. "Não tinha nada aqui, só poeira. No meu tempo, todo mundo era pobre, da roça. Tinha que pegar lenha no mato para cozinhar, carregar lata de água na cabeça. A gente socava mamona no pilão para fazer óleo para lamparina. Hoje, o mundo é muito rico, a gente só pinica na parede e a luz liga, a água sai da pia. Hoje, é tudo beleza pura", conta.
Dona Pifa é muito feliz com o empoderamento conquistado pelas mulheres. Ela conta que, quando era jovem, as mulheres nasciam cativas e assim morriam. Só podiam sair com o pai e, depois de casadas, dependiam dos maridos. Estavam proibidas falar. "Foi o ato de poder votar que tornou todas iguais. Hoje, as mulheres passam os homens. São bonitas, libertas, vão para onde querem. Eu me sinto bem de ser mulher, dou o maior valor, sabia?"

À beira do centenário, dona Pifa não podia estar melhor. Muito moleca quando jovem, ficou ainda mais com o passar dos anos. Não tem vergonha de nada e a língua fica mais solta a cada aniversário. O médico atestou que seu coração é de menina-moça. "Velho é o meu passado, e a juventude está na minha cabeça. Vi o mundo, o fundo e a beirada do outro mundo. Estou a cada ano mais alegre, sou muito feliz de viver no mundo civilizado. Só parei de beber com 93 anos. Fiz minha primeira tatuagem aos 90, a segunda aos 98. Com 100, vou fazer mais uma: uma estrela na outra perna", afirma.

Ser mulher é novidade para o corpo de Leandra, 20 anos, mas não para a sua cabeça. "Sempre me vi mulher, só não sabia direito o que eu era. Não sabia como colocar para fora. Estava no corpo errado. Na adolescência, fui lendo e entendendo. Aprendi o que era ser transsexual", lembra a modelo. Na escola, Leandra era alvo de muitas piadas por causa da aparência feminina e do jeito efeminado. Mas, talvez, por não ter fingido ser outra pessoa, a família a apoiou quando, em 2014, decidiu que queria seguir a vida como mulher.

O nome social é Leandra, mas a carteira de identidade estampa um nome de homem. A espera pela mudança é longa e pode durar anos. Ainda assim, ela acredita que as pessoas estão mais conscientes e que o assunto não é mais tabu. Não é um caminho simples. Há 10 meses, a modelo faz tratamento hormonal. Só daqui a um ano pode, e pretende, fazer cirurgia de mudança de sexo. Apesar de o acompanhamento psicológico ser obrigatório como parte do processo, Leandra conta que é muito bem resolvida. Mesmo assim, a imensa lista de laudos necessários para seguir o tratamento incomoda. "Tenho que provar para outras pessoas quando já provei para mim mesma, quando já estou certa do que sou", afirma.

Tendo vivido os dois lados da sexualidade, Leandra aprendeu a ser mulher. "Aprendi que é bem mais do que uma imagem, é ser forte, é dar a cara a tapa. É provar a todo minuto que podemos ser melhor do que os homens. Não é fácil."


"Não achei que ia viver até os 69 anos", conta a jornalista e chef macrobiótica Vera Viana. Na juventude, o ex-marido dela trabalhava com Oscar Niemeyer e foram passar uma temporada na Argélia. Foi quando ela contraiu uma virose africana. Ficou entre a vida e a morte. Em Paris, onde morava, escutou dos médicos que só tinha mais dois meses de vida. Naquele país, começou a se tratar, até que decidiu voltar para o Brasil, onde queria morrer. "Eu estava definhando. Fiquei muito frágil, dependendo dos outros para tudo."

Em terras brasileiras, a então sogra de Vera, uma japonesa, acolheu a nora e passou a inserir comidas e tratamentos orientais na rotina dela. Na época, tinha 30 anos. Aos poucos, a jornalista foi ganhando força, conseguiu se levantar da cama e foi orientada a fazer muitos exercícios físicos. Anos depois, deu à luz por parto normal. "Escutava o que estava me fazendo bem e fui me fortalecendo. Em 1986, abri meu restaurante macrobiótico. Recebia 50 pessoas por dia, dei muitas entrevistas na época. Estava em todo lugar. Por estresse, tive que parar por seis meses. Aprendi a me controlar, a falar não, a me fechar para algumas pessoas", lembra.

Hoje, Vera aprendeu a se enxergar e controlar qualquer ameaça à saúde. Sabe detectar a falta de energia e faz jejuns quando se sente doente. A cabeça também é importante: "Tudo o que acumula na mente acaba indo para o corpo. Alguma coisa desequilibra. É autoconhecimento", afirma. Também concilia a rotina corrida na cozinha com exercícios diários para se manter ativa e saudável.

Depois de sobreviver para comentar a própria história, Vera reflete muito sobre seu papel no mundo. Descobriu que ser mulher é ter um olhar mais abrangente para as coisas simples da vida e, mais importante, é um aprendizado diário. "É proteger os filhos e entender o momento certo de largá-los; é aproveitar muito o momento presente; é ter a serenidade da solidão, mesmo rodeado de pessoas. É preciso acalentar o interno, viver com você e, assim, ficar de bem com os outros. É aprender com os anos a ter senso e autocrítica para evoluir, e estar pronto para as mudanças da vida", define.
Fonte:correioBraziliense.

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