Três meses e meio após a instauração do processo disciplinar, o Conselho de Ética nem sequer superou a primeira etapa que permitiria as investigações contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A demora, que já se tornou recorde na história do colegiado, deve-se às sucessivas manobras de aliados do peemedebista que, além de obstruírem os trabalhos, anularam o início das apurações e levaram a ação de volta à estaca zero. Na sessão de terça-feira (23), não foi diferente.
O relatório que pede que o presidente da Câmara
seja investigado pelo envolvimento no escândalo da Petrobras não foi votado por causa das discussões protelatórias em plenário. Sem ao menos ficar constrangido em baixar o nível dentro de uma Casa Legislativa, o deputado Vinícius Gurgel (PR-AP) interveio em uma discussão sobre a hierarquia partidária de um parlamentar que pedia a fala e sentenciou: “É uma suruba isso aqui”, referindo-se à quantidade de partidos e à confusão sobre o acesso aos pronunciamentos. Foi reprimido pelo presidente do colegiado: “Estamos no Parlamento. Espero que as palavras usadas aqui sejam condizentes”, disse José Carlos Araújo (PSD-BA).
O autor da frase continuou: “Uma suruba política, presidente”. E levou um novo puxão de orelha. “No dicionário político não tem essa palavra”, afirmou Araújo. Gurgel referia-se a uma confusão provocada pelo pedido de palavra feito por um colega do PR, que falou como líder partidário. O parlamentar alegava ser vice-líder, o que lhe garantiria o direito de se pronunciar. Mas o comando do conselho afirmou que ele não estava inscrito dessa maneira.
Em meio a debates alheios ao processo contra Cunha, a sessão desta terça acabou como começou: sem investigar o presidente da Câmara. Uma nova tentativa será feita nesta quarta-feira. Mas não há muita esperança no resultado: “É uma promiscuidade total. Há de se reconhecer que nós não vamos andar aqui”, afirmou o adversário de Cunha Júlio Delgado (PSB-MG).
Fonte: Veja
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